Direita, esquerda, centro-direita ou centro-esquerda?

    Nos últimos anos vimos um recrudescimento do debate ideológico no cenário político brasileiro. Ainda hoje existe uma forte polarização entre direita e esquerda. Entre esses dois extremos transitam a maioria dos políticos e dos cidadãos brasileiros apesar disso não ser um fator preponderante na hora de se escolher em quem votar.

    As principais características de um governo de direita parecem estar nítidas no imaginário de uma ampla parcela dos brasileiros. O ultraconservadorismo, o Estado tão forte ao ponto de promover a censura, o controle da educação e dos movimentos sociais,  a crença em que a estabilidade da economia e a garantia da propriedade privada é o contexto em que o individuo desenvolve suas habilidades atingindo inevitavelmente o progresso. Pensamento alinhado ao liberalismo econômico e tem muita facilidade em ver qualquer movimento social como sendo um movimento comunista.

    Já a esquerda ainda está muito associada às ideias comunistas que, em sua origem, pregava o fim do Estado e a constituição de uma sociedade sem classes por meio de uma revolução dos trabalhadores. Marcado também pela coletivização dos meios de produção, incialmente o Estado promoveria e consolidaria as mudanças para, enfim, ele próprio sair de cena. Nenhum país do mundo chegou de fato a ser comunista, não saíram do estágio anterior marcado pela personificação e ditaduras sangrentas. É quase impossível ver qualquer movimento social no Brasil que ainda insista nessas ideias tais como foram apresentadas. Por isso, eu vejo como um grande exagero representantes de setores de direita ainda hoje falarem em ameaça comunista no Brasil. Nem nos tempos mais prósperos o comunismo foi capaz de representar qualquer ameaça concreta ao Brasil.

    O fato de as ideias ditas centristas captarem tantos apoiadores é um indício de que a oposição entre direita e esquerda está longe de ser uma unanimidade. As ideologias de centro podem ser classificadas em centro-direita ou de centro-esquerda. 

    A primeira é de orientação liberal. É também conhecido como Liberalismo social ou progressista. Adota algumas das principais características de um Estado de direita e liberal, diferenciando-se principalmente no trato dado às questões sociais além de ser menos conservador. Além de garantir uma economia forte, estável e empregos, o Estado também deve se preocupar em reduzir as desigualdades sociais. Os adeptos dessa ideologia acreditam que um contexto de desigualdade dificulta a garantia dos direitos individuais, portanto o Estado deve promover políticas públicas e apoiar iniciativas privadas em projetos que visem reduzir as desigualdades sociais. Essa ideologia surgiu ainda no século XIX e significou uma reforma  no pensamento liberal.

    Já a centro-esquerda, também conhecida como social-democrática,  ganhou mais força após o fim da União Soviética. Foi constituída por socialistas que haviam abandonado a ideia de revolução. O projeto consiste em reformar a sociedade por vias políticas. Como principais representantes podemos citar o Partido dos Trabalhadores (PT), o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) e o Partido socialista Brasileiro (PSB).

    Ver-se portanto que no liberalismo social, a palavra social tem a ver com sociedade enquanto que a mesma palavra, na social-democracia, é associada ao socialismo. Vale ressaltar que no cotidiano político brasileiro essas fronteiras ideológicas nem sempre é facilmente perceptível, pois as pessoas têm uma tendência a considerar seus interesses pessoais em suas escolhas. Exemplos disso são a ampla parcela de eleitores que votam em candidatos muito mais por adotar medidas que lhe beneficie do que por razões ideológicas,  das coligações partidárias que muitas vezes reúnem partidos de ideologias diferentes e das eleições no Congresso onde muitos deputados ou senadores definem seus votos em projetos muito mais interessados em nomeações ou aumento de verba de gabinete do que por afinidades ideológicas.